terça-feira, 1 de abril de 2014

José de Anchieta, patrimônio do povo brasileiro


José de Anchieta: dedicação ao projeto do Pai.

Por Padre Geovane Saraiva*

Na dinâmica do Reino de Deus, cujos alicerces Jesus estabeleceu há 2 mil anos, constatamos ainda hoje um mundo profundamente conturbado, marcado por sinais de morte e violência de toda natureza. É a partir do projeto inexprimível e indizível de Deus Pai, que gostaria de apresentar aos queridos leitores uma figura humana, considerada imprescindível, no seu inflamado zelo e amor, querendo “tudo para a maior glória Deus”. Pessoa profundamente marcada pela mística redentora, a ponto de se consumir em vida, indo ao encontro dos indígenas e demais pessoas do tempo por ele vivido, através da catequese, do anúncio e da instrução, por meio do Evangelho. Tê-lo como uma figura exemplar e referencial, pela sua lavra literária, pelo ardor genuíno e garra na missão, a ponto de transformá-lo numa pessoa emblemática e patrimônio do povo brasileiro, em todas as ocasiões e circunstâncias, no decorrer da história.

Trata-se do bem-aventurado José de Anchieta, o qual em condições sine qua non, abriu as portas do nosso imenso Brasil para que a semente do Evangelho fosse lançada, como a maravilhosa proposta do Reino de Deus, ofertada ao povo brasileiro, no início de sua história e civilização. Dos seus 63 anos vividos, e bem vividos, 46 foram na vida religiosa, com ingresso em Coimbra na Companhia de Jesus (Padres Jesuítas) e destes, 44 consagrados como missionário no Brasil (1553-1597).



Nascido na Ilha de Tenerife, no Arquipélago das Canárias, aos 19 de março de 1534, recebeu no batismo o nome de José, porque nasceu no dia deste glorioso santo. Coincidentemente, no ano de seu nascimento, Santo Inácio de Loyola fundara em Paris a Companhia de Jesus. José viveu com a família até os 14 anos, quando se mudou para Coimbra, Portugal, lugar muito importante em sua vida, onde estudou Filosofia no Real Colégio das Artes e Humanidades, um anexo da universidade, destacando-se por seus talentos, inteligência e memória raríssima e privilegiada. Foi aí que pediu para ingressar, aos 16 anos (1551), na Companhia de Jesus, sendo enviado dois anos depois às missões do Brasil. Sua vida religiosa foi exemplar, distinguindo-se nas virtudes da humildade, obediência e, sobretudo, numa grande devoção a Nossa Senhora.

Ordenado sacerdote em 1566, foi escolhido para superior da comunidade de São Vicente e depois de São Paulo. Dez anos mais tarde, foi nomeado provincial de toda a missão no Brasil, revelando-se um superior de decisões sábias e seguras. Inteligente, altivo e dotado das melhores qualidades, do ponto de vista literário, dominava o tupi, língua dos indígenas, a ponto de arrancar-lhes aplausos, seja ao dialogar ou escrever. Ele ainda escreveu uma gramática e depois um catecismo na língua dos aborígenes, os quais lhe agraciaram com cognome de “apóstolo do Brasil”.


 Dele se contam maravilhas e prodígios, através de milagres, profecias, curas e até mesmo sua proximidade e familiaridade com os pássaros e animais ferozes, o que nos faz lembrar Francisco de Assis ou Santo Antônio. Deste extraordinário homem de Deus, sabe-se que escrevia com uma vara na areia da praia e a água do mar não apagava e ainda levitava em êxtase. Por fim, suas virtudes, qualidades, contribuições científicas e literárias o qualificaram, de tal forma, que se tornou o mais popular e venerado dos seguidores de Inácio de Loyola no século XVI.

A vinda de José de Anchieta para o Brasil foi quase casual, porque se recuperava de uma grave enfermidade que o deixou abatido e com forças precárias. Ele tinha o receio de não continuar os estudos exigidos a um aluno e discípulo de Inácio de Loyola. Padre Manuel da Nóbrega, superior provincial dos Jesuítas no Brasil, desejando homens de braços e mãos corajosas para a atividade apostólica e missionária na Terra de Santa Cruz, solicita do provincial da Companhia de Jesus em Portugal, que enviasse missionários com muita disposição para catequizar e anunciar o Evangelho. Entre outros, a sorte caiu no jovem José de Anchieta, que foi confortado por seu superior, e por conselho do seu médico, oferecendo-lhe a possibilidade de viajar para o Brasil, onde o clima podia favorecê-lo, chegando à sua nova pátria aos 13 de junho de 1553, com menos de 20 anos de idade.


Ao mesmo tempo em que, com palavras inauditas, encantava e atraía o povo, convertia os inimigos e pacificava adversários. Apesar do seu físico franzino, apresentava-se sempre com semblante alegre e afável, com força e coragem inabaláveis, que com tenacidade soube enfrentar os desafios, os quais a missão o exigia.


Sempre dava demonstração de preocupação, diante das angústias, dos sofrimentos e das necessidades da humanidade de seu tempo. A exemplo de Jesus, o Bom Pastor, ofereceu seus dons, talentos e a própria vida, desejoso de realizar na Igreja o projeto do Pai:  plantar a semente do Evangelho em nossas terras, mostrando a ternura e a face amorosa de Deus, através do exercício da caridade, alimentado pela fé e esperança. Não procurava alienar as pessoas, pelo contrário, quando anunciava que os cristãos deveriam viver o novo mandamento: “Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amais uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 34-35). José de Anchieta faleceu aos nove de junho 1597. O papa João Paulo II o declarou bem-aventurado em 22 de junho 1980.

* Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso. É autor dos livros “O peregrino da Paz”, “Nascido Para as Coisas Maiores”, “A Ternura de um Pastor”, “A Esperança Tem Nome”, "Dom Helder: sonhos e utopias" e "25 Anos sobre Águas Sagradas”.

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O padre José de Anchieta, apóstolo do Brasil, será declarado santo pelo papa Francisco no início do  mês de abril. A informação foi dada, nesta quinta-feira (27), pelo arcebispo de Aparecida e Presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno, durante entrevista nos estúdios da Rádio Vaticano.

"José de Anchieta deixou marcas profundas no início da colonização do Brasil, como também na sua evangelização. Eu creio que ele merece ser cultuado por toda a Igreja", disse o cardeal.

Dom Raymundo se encontrou o papa Francisco recentemente para falar sobre o beato José de Anchieta. Segundo ele, a canonização será feita em uma cerimônia mais simples, menos solene e que consiste na assinatura de um decreto pelo próprio papa, em que ele declara santo o padre jesuíta Anchieta.

Sobre o porquê de não ser realizada uma grande cerimônia, na Praça São Pedro, para a canonização do beato, Dom Damasceno explica que foi uma decisão do próprio papa. “Ele quis uma cerimônia mais simples, discreta, mas tem o mesmo valor, evidentemente, que quando a canonização é feita de modo mais solene”, salientou.


A canonização será comemorada com uma missa celebrada pelo papa Francisco e com a presença de bispos e representantes do povo canadense e do Brasil. Isso porque, segundo Dom Damasceno, a canonização de padre Anchieta será feita junto com outros dois beatos canadenses importantes para a história da Igreja no Canadá ( Marie de l´Encarnação, conhecida como a Mãe da Igreja canadense, e François de Laval, primeiro bispo de Quebec).

“Depois, nós pretendemos também celebrar, de uma forma mais solene, agradecendo a Deus pelo dom desse santo para nós no Brasil, na Assembleia dos Bispos, em Aparecida (SP), quando vamos realizar a próxima assembleia geral, no fim de abril, começo de maio. Será uma celebração nacional, com a presença, portanto, de todo o episcopado e convidados especiais. Depois, cada estado fará também a sua celebração solene e com grande participação do povo, sobretudo aqueles Estados que têm muito a ver com a vida de Anchieta”, pontuou.

O Cardeal também informou que se pretende fazer uma celebração mais restrita no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, mas ainda não há uma data estabelecida, porque depende da agenda do Papa. O Santo Padre já aceitou um convite para visitar o colégio, que vai comemorar 80 anos em 3 de abril. Segundo Dom Damasceno, os jesuítas estão deixando a direção do colégio, que será assumida pela
CNBB.



História

José de Anchieta (1534-1597) foi um padre jesuíta espanhol, beatificado pelo Papa João Paulo II em 1980. Com 14 anos de idade, estudou no Real Colégio das Artes em Coimbra. Ingressou na Companhia de Jesus em 1551 e dois anos depois embarcou com destino ao Brasil, na comitiva de Duarte da Costa - segundo Governador Geral - para catequizar os índios.

Em 25 de janeiro de 1554 fundou, junto com o padre Manoel da Nóbrega, um colégio em Piratininga; aos poucos se formou um povoado ao redor da instituição de ensino, batizado por José de Anchieta, de São Paulo. Foi aclamado por portugueses e índios como "apóstolo do Brasil".

Padre José de Anchieta também  foi professor dos noviços que entravam para a Companhia de Jesus no Brasil. Viveu em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Em 1595, escreveu Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil, a primeira gramática do Tupi - Guarani.

Escreveu diversas poesias, cartas e autos. A poesia de José Anchieta é marcada por conceitos morais, espirituais e pedagógicos. Compôs primeiro em sua língua materna, o castelhano, e em latim e posteriormente traduziu para o português e para o tupi. Faleceu em 9 de junho de 1597 no Espírito Santo.

FONTE: http://www.domtotal.com.br/

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